ESTUDO MOSTRA OS MALEFÍCIOS DO
AR CONDICIONADO
Nariz coçando, garganta
seca, olho irritado, desconforto geral. Quem quiser pôr a
culpa no ar condicionado, pode fazê-lo com razão.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) fizeram um
diagnóstico dos efeitos do sistema de ventilação artificial
sobre a saúde do trabalhador e confirmaram muitos dos sintomas
atribuídos ao ar climatizado.
De acordo com o estudo, realizado em quatro prédios de
escritórios no centro de São Paulo, um terço das pessoas que
trabalha em ambiente com ar condicionado apresenta queixas
relacionadas ao sistema. Sem manutenção periódica dos
aparelhos e dutos, o ar dentro do edifício pode conter mais
fungos e ácaros que o de fora, com risco até dez vezes maior
de doenças respiratórias. E mesmo com manutenção, o ar
condicionado causa uma série de desconfortos que reduzem o
rendimento no trabalho.
"As queixas com ar condicionado são sempre maiores", diz o
médico alergista Gustavo Silveira Graudenz, autor do estudo. À
medida que o sistema envelhece, entretanto, os sintomas se
tornam mais freqüentes. Segundo ele, a Organização Mundial de
Saúde (OMS) aceita que até 20% das pessoas apresentem queixas
com relação ao ambiente de trabalho. Nos escritórios em que os
dutos de ventilação tinham mais de 20 anos, os pesquisadores
registraram índices de 50%.
O trabalho envolveu 1.500 pessoas e contou com uma combinação
privilegiada de ambientes, proporcionados pela reforma do
sistema de ventilação de um dos edifícios: ar condicionado e
dutos novos, ou ambos velhos, e ar condicionado velho com
dutos novos. "Mesmo em locais como o Brasil, de clima
tropical, as pessoas apresentam índices de queixas semelhantes
aos de Estados Unidos e Canadá, que possuem clima muito mais
rigoroso", observa Graudenz.
O problema mais comum é a contaminação
dos dutos de ventilação por ácaros e fungos - o chamado mofo.
Seus esporos são carregados pelo ar e podem causar irritações
nos olhos e trato respiratório. O resultado pode ser muito
pior do que um simples incômodo. "Quando você vai para casa
com o nariz entupido, sua estrutura de sono será perturbada",
diz o pesquisador Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia
da Faculdade de Medicina da USP.
Conseqüentemente, isso pode levar a fadiga, mal-estar e um
sistema imunológico comprometido, favorecendo infecções por
bactérias oportunistas. "Sem falar das horas perdidas no
trabalho e da má qualidade de vida das pessoas". Quem mais
sofre são os indivíduos com alergias respiratórias, mesmo nos
casos em que não foram encontrados níveis altos de
contaminação por fungos ou ácaros, afirma Graudenz.
O objetivo da pesquisa nos edifícios era levantar hipóteses
para serem testadas no laboratório, o próximo passo "Vamos
dividir os grupos em alérgicos e não alérgicos e submetê-los
ao ar condicionado em ambiente controlado", explica Graudenz.
O projeto é uma parceria da Faculdade de Medicina com a Escola
Politécnica e o Instituto de Ciências Biológicas, todos da
USP.
Fonte:
Agência Estado