Durante muito tempo a segurança
do trabalho foi vista como um tema que se relacionava apenas com
o uso de capacetes, botas, cintos de segurança e uma série de
outros equipamentos de proteção individual contra acidentes. A
evolução tecnológica se fez acompanhar de novos ambientes de
trabalho e de riscos profissionais a eles associados. Muitos
desses novos riscos são pouco ou nada conhecidos e demandam
pesquisas cujos resultados só se apresentam após a exposição
prolongada dos trabalhadores a ambientes nocivos à sua saúde e
integridade física.
Hoje, o setor de segurança e
saúde no trabalho é multidisciplinar e tem como objetivo
principal a prevenção dos riscos profissionais. O conceito de
acidente é compreendido por um maior número de pessoas que já
identificam as doenças profissionais como conseqüências de
acidentes do trabalho. A relação homem-máquina, que já trouxe
enormes benefícios para a humanidade, também trouxe um grande
número de vítimas, sejam elas os portadores de doenças
incapacitantes ou aqueles cuja integridade física foi atingida.
Entre as máquinas das novas relações profissionais, os
computadores pessoais têm uma característica ímpar: nunca, na
história da humanidade, uma mesma máquina esteve presente na
vida profissional de um número tão grande e diversificado de
trabalhadores.
Diante desses fatos, muitas
dúvidas têm sido levantadas sobre os riscos de acidentes no uso
de computadores. Entre eles destacam-se os chamados riscos
ergonômicos. A Ergonomia é uma ciência que estuda a adequação
das condições de trabalho às características psicofisiológicas
dos trabalhadores de modo a proporcionar um máximo de conforto,
segurança e desempenho eficiente.
A
legislação
trabalhista brasileira
já reconhece a importância dessa ciência e dedicou ao tema uma
Norma Regulamentadora específica (NR-17). Entre os riscos
ergonômicos, aqueles que têm maior relação com o uso de
computadores são: exigência de postura inadequada, utilização de
mobiliário impróprio, imposição de ritmos excessivos, trabalho
em turno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia
e repetitividade. Além desses riscos, as condições gerais do
ambiente de trabalho fazem parte da avaliação ergonômica, aqui
incluídos o nível de iluminamento, temperatura, ruído e outros
fatores que, após analisados no local, tenham influência no
comportamento dos trabalhadores.
A exposição do trabalhador ao
risco gera o acidente, cuja consequência nesses casos tem efeito
mediato, ou seja, ela se apresenta ao longo do tempo por ação
cumulativa desses eventos sucessivos. É como se a cada dia de
exposição ao risco, um pequeno acidente, imperceptível,
estivesse ocorrendo. As consequências dos acidentes do trabalho
desse tipo são as doenças profissionais ou ocupacionais.
A maneira verdadeiramente eficaz
de impedir o acidente é conhecer e controlar os riscos. Isso se
faz, no caso das empresas, com uma política de segurança e saúde
dos trabalhadores que tenha por base a ação de profissionais
especializados, antecipando, reconhecendo, avaliando e
controlando os riscos. Para padronizar esse trabalho foi
estabelecida a obrigatoriedade de os empregadores elaborarem um
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, conhecido pela sigla
PPRA. Esse programa, objeto de uma Norma Regulamentadora do
Ministério do Trabalho (NR-9), estabelece as diretrizes de uma
política prevencionista para as empresas.
No caso específico dos
profissionais que têm o computador como instrumento de um
trabalho diário, a prevenção dos riscos ergonômicos relacionados
ao seu uso deverá ser motivo de atenção e interesse, observando,
entretanto, que a legislação e as normas técnicas estão
inseridas no contexto maior de uma avaliação completa do
ambiente de trabalho. O bem estar físico e psicológico dos
trabalhadores reflete no seu desempenho profissional e é
resultado de uma política global de investimento em segurança,
saúde e meio ambiente.
A doença profissional mais conhecida por
apresentar-se em conseqüência do uso de computadores é chamada
de LER - Lesão por Esforços Repetitivos
(Repetitive Strain Injury - RSI). É mister que fique claro queee
essas lesões (LER) não ocorrem apenas com o uso de
computadores, mas em toda a atividade profissional que exija o
uso forçado e repetido de grupos musculares associado a posturas
inadequadas. Uma das mais conhecidas manifestações dessas
lesões, em profissionais da área de processamento de dados, é a
tenossinovite. Não é nosso objetivo detalhar as características
específicas dessas lesões, apenas registrar sua ocorrência e
recomendar uma pesquisa específica sobre o tema se houver um
interesse especial. No Brasil, a recomendação mais recente é
pela utilização do termo DORT - Doenças Osteomusculaaarres
Relacionadas ao Trabalho. Na Internet, usando em
instrumentos de busca (
Google,
por exemplo ) as palavras chaves Repetitive Strain Injury - RSI,
será encontrado um vasto material de pesquisa.
Dores de cabeça e irritação nos
olhos também são sintomas associados ao uso de computadores.
Eles ocorrem após o trabalho prolongado e contínuo e são
conseqüências da fadiga visual. A iluminação do ambiente é um
fator fundamental para reduzir a incidência desses sintomas,
principalmente no que diz respeito a evitar reflexos na tela do
monitor. Além disso, os olhos também requerem pausas regulares
para descanso, da mesma forma que os pulsos, dedos, pescoço,
enfim, as partes do corpo diretamente exigidas pelo trabalho.
O stress físico e psicológico é
outra conseqüência de uma utilização sem controle do computador,
vinculado a jornadas longas, trabalhos em turno e noturnos. É
interessante observar que a interface do programa que é
utilizado também influi diretamente no desempenho e no estado
geral do usuário. O trabalho intenso com um programa que tenha
uma interface pouco amigável gera maior número de erros, o que é
acompanhado de irritação, desconforto e cansaço. A Ergonomia
também abrange estudos sobre esse aspecto da relação
homem-máquina, ou seja, o desenvolvimento ou o aperfeiçoamento
da interface, tornando-a cada vez mais intuitiva, direta e
objetiva. Esses estudos envolvem o desenho das telas dos
programas, a distribuição dos ícones, janelas e as seqüências de
comandos para se alcançar determinados objetivos.
A utilização de mobiliário
adequado é muito importante mas isso se constitui apenas em uma
parte de um processo mais amplo que é a construção de um
ambiente de trabalho seguro e saudável. O ambiente de trabalho
precisa ser adequado ao homem e à tarefa que ele vai
desempenhar. Quando se fala em mesas, cadeiras e teclados
ergonômicos, entre outros ítens, o que efetivamente os
caracteriza é a sua flexibilidade, sua capacidade de se
ajustarem às características específicas dos seus usuários, aqui
compreendidas, em especial, a altura, peso, idade e atribuições.
O fundamental para os usuários de
computadores é saber que há procedimentos básicos para se evitar
acidentes no trabalho, mesmo quando esse trabalho se concentra
em uma relação homem-máquina aparentemente amigável e isenta de
riscos, desenvolvida em escritórios ou mesmo em casa.
Apresentamos abaixo um resumo desses procedimentos:
O monitor deve estar com sua
parte superior ao nível dos olhos do usuário; A distância entre
o monitor e o operador deve ser equivalente à extensão do braço;
o monitor deve ser ajustado para não permitir reflexos da
iluminação do ambiente; os pés devem estar apoiados no chão ou
em um suporte; Os pulsos deverão estar relaxados, porém sem
estarem flexionados; se há entrada de dados, deve ser usado um
suporte para documentos, para evitar os movimentos repetidos do
pescoço; o usuário deve fazer pausas regulares para descanso,
levantar, caminhar e exercitar os pulsos e pescoço com
movimentos de flexão e extensão.
A adoção desses procedimentos irá
contribuir para um trabalho mais seguro, desde que as condições
do ambiente estejam adequadas ao tipo de trabalho que ali se
desenvolve, entendendo essas condições como o controle dos
níveis de iluminamento, ruído, temperatura, umidade do ar e
outros agentes cuja presença possa representar riscos.
|