Perda Auditiva
Neurossensorial por Exposição Continuada a Níveis Elevados de
Pressão Sonora de Origem Ocupacional
Rachel Rocha Cintra –
Fonoaudióloga Clínica e Ocupacional
CARACTERIZAÇÃO:
A PAIR se caracteriza pela
perda gradual e progressiva da acuidade auditiva e a sua forma
de apresentação é determinada por estes aspectos:
1.
Ser sempre neurossensorial, pois afeta a cóclea do indivíduo.
Isso significa que a PAIR é um tipo de perda auditiva
irreversível;
2.
Ser, geralmente, bilateral;
3.
Não haverá progressão da PAIR, caso seja cessada a exposição do
indivíduo ao ruído;
4.
A presença de PAIR não torna o indivíduo mais sensível à
exposição ao ruído. Ao contrário, à medida que aumenta o grau da
perda de audição, a progressão da perda se dá mais lentamente;
5.
Possui características típicas a nível de suas configurações
audiométricas;
6.
O indivíduo portador de PAIR pode desenvolver intolerância a
sons intensos, queixar-se de zumbidos e de diminuição da
inteligibilidade de fala.
INCIDÊNCIA
A PAIR ocupa o segundo lugar
entre as doenças mais freqüente do aparelho auditivo, sendo
superada apenas pela presbiacusia ( degeneração auditiva pela
idade). Também ocupa o segundo lugar entre as doenças
ocupacionais, sendo suplantada apenas pelas dermatoses
ocupacionais.
DETECÇÃO
Todo trabalhador exposto a
ruído deve ser submetido a um processo de rastreamento da PAIR,
sendo que, um indivíduo só será considerado exposto ao risco de
adquirir um dano auditivo devido a ruído quando o tempo de
exposição diário ultrapassar o limite proposto para cada nível
de pressão sonora.
Para que este rastreamento
seja realizado, todo trabalhador deve ser submetido, num
primeiro momento, a uma audiometria realizada em condições
técnicas ideais, que tem como finalidade expressar de maneira
fiel a real situação dos limiares auditivos tonais. Esta é a
chamada audiometria de referência.
Contra a de referência serão
comparadas todas as audiometrias seqüenciais, que, por razões de
praticidade, podem ser executadas em menor exigência técnica.
Sempre que uma audiometria
seqüencial mostrar uma diferença significativa em relação à de
referência, o trabalhador deve ser submetido a novo teste, agora
em condições ideais, e, caso a diferença se confirme, a última
passa a ser a nova audiometria da referência.
EXAME AUDIOMÉTRICO
A execução da audiometria
deve obedecer a certos preceitos de qualidade que definirão o
grau de confiabilidade dos resultados:
·
Profissional qualificado para execução do teste: os
profissionais médico e fonoaudiólogo são os únicos habilitados
para executar exames audiológicos.;
·
Equipamento ( audiômetro ) periodicamente calibrado;
·
Local adequado para realização do exame: Cabina audiométrica ou
ambiente acusticamente tratado;
·
Repouso auditivo em torno de 14 horas antes de realizar a
audiometria;
·
A otoscopia ou meatoscopia prévia;
·
Teste pelas vias aérea (analisa os ouvidos externo e médio) e
óssea (analisa o ouvido interno) nas freqüências de 250 Hz a
8.000 Hz;
·
Periodicidade dos testes: 6 meses após a admissão e, a partir de
então, repetições anuais. Caso haja PAIR, de 3 em 3 meses;
DIAGNÓSTICO
Para se diagnosticar a PAIR,
devemos analisar:
·
O gráfico audiométrico;
·
A história clínica e ocupacional do indivíduo;
·
O tempo de exposição ao ruído;
·
A exposição a outros agentes ototóxicos ou otoagressivos;
·
Fatores ligados ao indivíduo (susceptibilidade individual)
·
Idade, raça, sexo;
·
Outras doenças e traumatismos.
PROGNÓSTICO
Como as células sensoriais do
órgão de Corti (localizado na cóclea) não se regeneram depois de
destruídas, não existe tratamento clínico para restaurar a
audição. Desta forma, o melhor procedimento diante desta
patologia é a PREVENÇÃO, que pode ser feita através dos
Programas de Conservação Auditiva (PCA) que incluem o uso do
equipamento de proteção individual – protetor auditivo.
O protetor auditivo ideal, ao
invés daquele de melhores especificações técnicas, é aquele que
é mais aceito e utilizado pelos indivíduos expostos ao risco.
Os fatores que devem ser
levados em consideração na escolha dos tipos e modelos de
protetores auditivos a serem usados são:
1.
Grau de conforto proporcionado pelo equipamento;
2.
Facilidade de colocação, manuseio e manutenção;
3.
Capacidade de atenuação do ruído;
4.
Vida útil;
5.
Custo do produto.
ASPECTOS LEGAIS
No Brasil, a exposição de
trabalhadores ao ruído e suas conseqüências é regulamentada por
dois Ministérios: do Trabalho e da Previdência Social. A
legislação vigente ainda não se mostrou eficaz, nem na prevenção
aos danos, nem na sua reparação.
Mas é oportuno lembrar que, o
bem jurídico no qual se centra a atenção do regime reparatório
dos acidentes e doenças ocupacionais, não é tanto a integridade
física ou funcional, mas a integridade produtiva, isto é, o
indivíduo como portador de determinada potencialidade de
trabalho.
A PAIR na grade da maioria
dos casos, não acarreta incapacidade para o trabalho porque de
uma maneira geral a perda auditiva neurossensorial ou mesmo a
redução da capacidade auditiva não interfere nas habilidades
requeridas na maioria das atividades operacionais.
Assim, todos os casos de
incapacidade somente funcional (redução da capacidade auditiva
sem repercussão para a atividade / função do segurado ), se
constatada, se configura uma condição não enquadrável, portanto
não indenizável, na legislação previdenciária.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
·
Ferreira, M. J. – PAIR Bom Senso e Consenso. Ed. VK, São Paulo,
1998.
·
Norma Técnica de Avaliação da Incapacidade Laborativa – Seção
II.
·
Portaria do INSS com respeito à Perda Auditiva Induzida por
Ruído Ocupacional – 11 de Julho de 1997. |