Vera M. Steffen –
vsteffen@terra.com.br
Aletéia Simon Alano, Larissa Salati Ludwig, Marceli Ludwig,
Marcelo Dutra Arbo e Flavio Maya Simões
Departamento de
Análises Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Popular version of paper
5pNSb6
Presented Tuesday Afternoon, December 3, 2002
First Pan-American/Iberian Meeting on Acoustics, Cancun, Mexico
Segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS), “Saúde não significa apenas ausência de doença
ou dor, mas, também, um ótimo estado de bem estar físico, mental
e social”. A saúde desenvolve-se e mantém-se graças à interação
entre o homem e o meio ambiente. Como o ambiente de trabalho é o
local onde o trabalhador passa grande parte do seu tempo, a
manutenção da saúde depende, em grande parte, da salubridade do
ambiente ocupacional.
Com o atual crescimento
acelerado da tecnologia, que atinge quase todas as atividades
humanas, surgem inúmeras vantagens sócias econômico, porém dão
origem a vários subprodutos ou efeitos nocivos à qualidade de
vida, à segurança individual e coletiva. Um destes subprodutos
da tecnologia é o ruído e o uso cada vez maior de diferentes
compostos químicos.
Tem-se observado um crescente
interesse em pesquisas sobre os efeitos das exposições
combinadas a agentes físicos, químicos, biológicos e
organizacionais, presentes no ambiente de trabalho. Em
particular, destaca-se a potencial interação entre produtos
químicos e ruído, que podem ocasionar perdas auditivas nos
trabalhadores expostos. Estas têm ocupado lugar de destaque nas
doenças relacionadas ao trabalhador.
Por muitos anos, tais perdas
foram atribuídas exclusivamente à exposição ocupacional ao
ruído. As características de tal perda são muito semelhantes às
da perda auditiva por ototoxicidade, ou seja, ambas são
neurosensoriais, apresentam lesões cocleares, são irreversíveis,
acometem inicialmente altas freqüências (sons agudos) e quase
sempre são bilaterais. Este fato talvez tenha postergado os
estudos a respeito dos efeitos auditivos da exposição
ocupacional a produtos químicos. Considerando que é freqüente a
exposição combinada a agentes físicos e químicos nos ambientes
de trabalho, torna-se extremamente importante estudos envolvendo
possíveis interações entre tais agentes e seus efeitos na
audição dos trabalhadores.
Dentre os compostos químicos
ototóxicos, pode-se destacar os metais (chumbo, arsênico,
cobalto e manganês), os asfixiantes (cianeto, monóxido de
carbono e nitrato de butila) e os solventes (álcool, dissulfeto
de carbono, hexano, tricloroetileno, tolueno, xileno, estireno e
misturas). Considera-se que, dentre tais compostos, os solventes
são os mais utilizados na indústria. O tolueno, é um solvente
presente em colas, lacas, tintas, vernizes, óleos, dentre
outros. Para avaliação da exposição aos níveis de tolueno no
ambiente laboral, realiza-se o monitoramento biológico através
do ácido hipúrico que é o bioindicador urinário para o tolueno
Para que o profissional de
segurança ou higiene do trabalho possa colocar em prática
medidas que efetivamente protejam a saúde do trabalhador, devem
ser realizadas avaliações periódicas do potencial de
contaminação do ambiente de trabalho, através do monitoramento
ambiental e biológico. Para realização deste monitoramento é
necessário o conhecimento prévio de diversas condições
relacionadas aos trabalhadores e ao ambiente. Dentre elas, a
movimentação dos trabalhadores, condições de ventilação,
atividades ou funções desempenhadas e avaliação dos equipamentos
em relação ao impacto com o ambiente.
A surdez progressiva pode ser
silenciosa, os indivíduos que dizem estar acostumados com o
ruído, na maioria das vezes já possuem uma deficiência auditiva
instalada. O uso de protetores auriculares deve ser sempre
temporário, nunca definitivo e somente utilizados quando todos
os outros meios de controle estiverem esgotados. Devemos sempre
optar por uma solução de proteção coletiva, a qual reflete na
melhoria de qualidade de vida dos trabalhadores.
Realizou-se um estudo sobre
dano auditivo em trabalhadores expostos a ruído e solvente em
uma fábrica de calçados. Este trabalho foi realizado pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul conjuntamente com
outras Instituições. Foram efetuadas análise dos níveis de ruído
e solventes aos quais os trabalhadores estavam expostos durante
a jornada de trabalho de 8 horas diárias/cinco dias semana, e
seus efeitos sobre a audição dos trabalhadores. Neste trabalho
observou-se que, mesmo os operários não estando expostos a
níveis de ruído superiores ao limitado pela Norma
Regulamentadora do país, 85 dBA/8h (NR-15 MT/BR) e que a
exposição ao tolueno seja menor do que a estabelecida por esta
norma (78 ppm), um elevado número de trabalhadores
apresentaram acentuada perda auditiva no grupo de trabalhadores
expostos ao solvente e ruído, o sugere que a exposição a estes
agentes, mesmo dentro dos limites estabelecidos, pode aumentar a
ocorrência de perdas auditivas. Este dado é preocupante tendo em
vista que os trabalhadores permanecem em jornada de 8 horas de
trabalho expostos a estes agentes, muitas vezes sem a proteção
adequada.
Estudos com o propósito de
verificar a interação de agentes tóxicos, na saúde dos
trabalhadores, podem servir de ferramenta para discussões de
normas vigentes, devido ao fato dos limites estabelecidos por
organismos governamentais nacionais e internacionais, que
determinam condições de trabalho seguras, não considerarem os
efeitos interativos da exposição a mais de um agente tóxico.
Acreditamos ser de extrema relevância científica e social
pesquisas sobre a interação de agentes físicos e químicos na
saúde dos trabalhadores.
Apoio: Fundação Estadual de
Pesquisa e Produção em Saúde (FEPPS)
Conselho Nacional de
Desenvolvimento e Pesquisa (CNPq).
Faculdades Integradas Ritter Dos
Reis (FAIR). |