Brasília/DF - O
Ministério da Saúde investe em ações para identificar e prevenir
acidentes e doenças relacionados ao trabalho. Estão sendo
divulgados dados da pesquisa Acidentes de trabalho: custos
previdenciários e dias de trabalho perdidos, patrocinada pelo
Ministério e realizada pela Universidade Federal da Bahia
(Ufba), que traça um perfil das causas de acidentes e doenças no
estado e aponta os prejuízos. Estudos como este podem ajudar no
desenvolvimento de políticas para prevenir acidentes e doenças
ocupacionais.
O governo pretende
utilizar o resultado desse e de outros estudos para sensibilizar
as empresas a adotarem medidas efetivas contra os acidentes, que
afetam bastante a produtividade. "Se um trabalhador adoece ou
sofre um acidente, o empresário arca com as despesas dessa baixa
nos 15 primeiros dias. Também terá que treinar e pagar outro
funcionário para ocupar o lugar da vítima. Com isso, aumentam os
custos da empresa", avalia Graça Hoefel, assessora técnica da
Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde.
Graça credita
enorme importância à pesquisa desenvolvida pela Universidade
Federal da Bahia. "Sabemos que é grave a realidade dos acidentes
de trabalho, mas não existem muitos estudos sobre o assunto",
afirma. Ela conta que o Ministério também apóia pesquisas em
outros estados para aprofundar os conhecimentos e discussões a
respeito do tema. "Uma pesquisa como essa da Bahia nos dá
subsídios para que possamos pensar em políticas públicas para
evitar acidentes de trabalho".
A pesquisa foi
concebida pela equipe do Programa Integrado em Saúde Ambiental e
do Trabalhador do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, entre
2002 e 2004, com base nos acidentes e doenças de trabalho
registrados na Bahia em 2000. Naquele ano, a Previdência
concedeu 31 mil benefícios no estado. A pesquisa mostra um dado
preocupante: 62,8% de todos os problemas de saúde ocupacionais
que provocaram afastamento de funcionários se relacionaram a
acidentes de trabalho. Do total de benefícios concedidos, 7,3%
destinaram-se a cobrir danos desse tipo de acidente.
Segundo as
constatações dos pesquisadores, os acidentes em 2000, na Bahia,
trouxeram um gasto de R$ 8,5 milhões e significaram mais de 500
mil dias de trabalho perdidos. "Na verdade, esses custos são
maiores, pois o resultado que verificamos não contempla os
gastos das empresas e dos trabalhadores por conta dos acidentes,
sem contar, é claro, com o sofrimento das vítimas", afirma a
pesquisadora Vilma Sousa Santana, coordenadora do estudo.
Ela acredita que
identificar os custos dos acidentes, como faz a pesquisa, é
essencial para sensibilizar os empresários na prevenção do
problema. "Muitas vezes os empresários não têm informação sobre
o papel de medidas que evitam os acidentes e até existe uma
mentalidade de que aquela tragédia é inerente à profissão",
observa.
Ambiente
Na opinião da
pesquisadora Vilma Sousa Santana, que coordenou o estudo,
deve-se lembrar que, como os acidentes de trabalho resultam de
intervenções do homem no ambiente, podem ser evitados. "Se um
tipo de mesa ou um teclado de computador são capazes de causar
danos à saúde de seus usuários, eles precisam passar por uma
adaptação para solucionar o problema", exemplifica Vilma.
A pesquisa foi
dividida por setores do mercado de trabalho formal. Levando-se
em conta os problemas de saúde ocupacional, a participação dos
acidentes de trabalho foi maior nos setores de transformação
(66%); agricultura, pecuária, silvicultura, pesca e indústrias
extrativistas (67,2%); construção, eletricidade e gás (75,3%) e
transporte, correio e telecomunicações (77,4%). "No setor
primário, como a agricultura, verificamos que há muitos
acidentes com instrumentos cortantes, ataques de animais
peçonhentos como cobras e envenenamento por agrotóxicos", cita
Vilma. Em outros setores, sabe-se que é grande a participação de
acidentes de trânsito envolvendo os trabalhadores.
No que se refere
às aposentadorias por invalidez, elas foram concedidas na
maioria aos setores de construção, eletricidade e gás (11%),
comércio e transformação (7%) e intermediação financeira,
atividades imobiliárias, aluguel, serviços prestados e
administração pública (7%). Já as pensões por morte por acidente
de trabalho tiveram as maiores participações nos setores de
construção, eletricidade e gás (18,4%) e comércio, alojamento e
alimentação (15,6%).
Notificação
No Brasil ocorrem
cerca de 500 mil acidentes de trabalho por ano. Os dados da
Previdência Social já assustam, mas o governo federal estima que
este número pode até triplicar e não considera os trabalhadores
do mercado informal, aqueles que não têm carteira assinada.
Mesmo dentro do setor formal, há dificuldade em notificar
acidentes ou doenças. Só quando o trabalhador precisa ficar mais
de 15 dias de licença e recorre ao Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) é que a Previdência recebe a informação do
acidente ou doença. "Mesmo que os acidentes não notificados não
sejam tão graves, se acontecem com muita freqüência, há um
indicativo de que existe algo errado", assinala Graça Hoefel.
Para o Ministério
da Saúde, investir em estudos que apontem o perfil dos acidentes
e na notificação dos casos contribuirá para a criação e o
desenvolvimento de políticas para lidar com o problema. Desde
2000, o Ministério articula a Rede Nacional de Atenção Integral
à Saúde do Trabalhador (Renast), que reúne 150 Centros de
Referência em Saúde do Trabalhador.
Os centros
promovem ações para melhorar as condições de trabalho e a
qualidade de vida do trabalhador por meio da prevenção e da
vigilância. Os centros se encarregam de atender empresas que
querem implementar em seus quadros políticas para prevenção de
acidentes. Essas unidades mantêm diálogo constante com
sindicatos, empresas e serviços de saúde. "A Renast capilarizou
a política de saúde do trabalhador e deu dinamismo às ações, por
chegar até a ponta, ou seja, nas empresas, perto dos
trabalhadores e dos empresários", elogia Vilma Sousa Santana.
Outro componente
importante da Renast é a rede sentinela, formada por 500
serviços localizados dentro dos hospitais, principalmente nos
serviços de pronto-socorro do Sistema Único de Saúde (SUS). Os
profissionais das sentinelas têm como função notificar os casos
atendidos de acidente do trabalho e participar do tratamento e
da reabilitação do paciente. As informações são passadas para o
Sistema de Informação de Notificação de Agravos (Sinan-Net). O
Ministério da Saúde acredita que a ampliação da rede de
sentinelas é essencial para que se notifiquem também os
acidentes envolvendo os profissionais do mercado informal, que
não têm carteira de trabalho assinada e não pagam a Previdência
Social.
Desde 2004, a
portaria 777 do Ministério da Saúde obriga os serviços de saúde
a notificarem 11 agravos à saúde relacionados ao trabalho:
acidentes de trabalho fatais; com mutilações; com exposição a
material biológico; em crianças e adolescentes; dermatoses
(problemas relacionados a alterações na pele) ocupacionais;
intoxicações exógenas (por agrotóxicos, gases tóxicos e metais
pesados); Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Doenças
Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (Dort); pneumoconioses
(doenças decorrentes da inalação de poeiras); transtornos
mentais e câncer relacionados ao trabalho.
Sugestão de
numerária
Dados da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que
acontecem cerca de 5 milhões de acidentes de trabalho por ano no
mundo inteiro. Cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB)
mundial são gastos com as despesas relacionadas a doenças e
acidentes de trabalho. |